20 de agosto de 2013

Petróleo, o “x” da questão



* Por ROBERTO FENDT



A queda na extração do produto está por trás de boa parte da importação de derivados e está produzindo o déficit na balança comercial.

Há motivos de sobra para preocupação com os rumos do comércio exterior brasileiro neste ano. Contudo, as análises parecem estar acertando nas consequências por motivos errados. As razões para a preocupação são conhecidas. Desde o início do ano, como tem sido apontado neste espaço, o desempenho das exportações tem se mostrado desapontador.

De tempos em tempos, há soluços positivos nos números, para logo depois recair-se no pessimismo. Foi assim com os números divulgados para a balança comercial do mês de junho e com a reversão desse bom resultado observada em julho último. Nesse último mês as exportações diminuíram e as importações aumentaram, resultando daí um déficit na nossa balança comercial de quase 1,9 bilhão de dólares.

Não se trata, é certo, de um problema localizado em um mês específico. Nos primeiros sete meses do ano, as importações superam as exportações em praticamente cinco bilhões de dólares. No mesmo período do ano passado o saldo positivo da balança foi de praticamente dez bilhões de dólares – uma diferença de 15 bilhões de dólares.

Esse extraordinário resultado negativo tem tudo a ver com o saldo das operações de exportação e importação de petróleo e seus derivados. As primeiras tiveram um decréscimo superior a 38%, enquanto as segundas registraram aumento de 19%. Sozinho, o saldo da conta de exportações e importações de petróleo foi de 17,5 bilhões de dólares, praticamente explicando a reversão no saldo da balança comercial como um todo.

O resultado do restante da balança comercial, excluídas as operações com petróleo, teria apresentado um saldo da ordem de 9,5 bilhões de dólares, o que é quase equivalente ao saldo observado na balança comercial em 2012. 

Não faz sentido, portanto, afirmar que os maus resultados têm origem externa – principalmente associada à suposta queda dos preços das commodities de exportação brasileiras. A única commodity com queda na exportação é o petróleo. 

Como aponta o sempre atento Hugo de Barros Faria, em seu Boletim de Comércio Exterior, o índice de preços das commodities listadas pela Secex caiu 3,3% nos primeiros sete meses do ano. Já o referente ao "quantum" manteve-se praticamente estável.

Entretanto, se esse índice de preços das commodities for apurado por categorias de produtos, não são as commodities agrícolas que produziram o resultado descrito no parágrafo anterior. Os preços caíram 3%, mas o "quantum" exportado aumentou 16,4%. Portanto, a receita de exportação das commodities agrícolas aumentou 13,4%. 

Responsabilizar a desaceleração do crescimento da China também não ajuda a explicar o comportamento da balança comercial deste ano. As vendas das commodities agrícolas aumentaram quase 22% até junho. Dessas, as exportações de soja cresceram 25%. E as de minério de ferro, quase 2%. Juntas, essas duas categorias de produtos correspondem a quase 80% do total das exportações de commodities. 

Algo diferente ocorreu com as exportações dos produtos minerais. A receita de exportação desses produtos reduziu-se em 5,5%, motivado principalmente pela retração nas vendas de semimanufaturados de ferro e aço. A redução no valor das vendas da commodity minério de ferro, no entanto, causou um efeito negativo na balança comercial de apenas US$ 80 milhões. 

A raiz do problema reside na redução do valor exportado de combustíveis e lubrificantes, da ordem de 45%, com quedas acentuadas tanto do preço como do quantum exportado. Essa redução, sozinha, contribuiu com o equivalente a 6,8 bilhões de dólares para o déficit comercial nos primeiros sete meses do ano.

Por fim, é preciso levar em conta que parte dos efeitos da queda dos preços dos produtos exportados vem sendo compensada pela desvalorização do real. Para a maioria dos produtos, a desvalorização mais que compensou os efeitos negativos da redução dos preços – aumentando a receita em reais dos exportadores. 

Portanto, se existem razões para preocupações com o andar da carruagem do comércio exterior, essas preocupações deveriam estar concentradas, sim, na evolução do desempenho do petróleo, especialmente com relação à retomada da produção. É essa queda na extração do petróleo que está por trás de boa parte da importação de derivados e que está produzindo o déficit na balança comercial.

O restante da balança, se não está tendo um desempenho brilhante, não chega a ser motivo para preocupações. 

[Este artigo foi originalmente publicado no “Diário do Comércio”, de São Paulo]

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