28 de janeiro de 2011

MORAR EM TOUROS NO RIO GRANDE DO NORTE NA ATUALIDADE

Touros do futuro e o futuro de Touros


Por: Edgard Vieira Guerra

edguerra98@hotmail.com


Recentemente nossa cidade tem sido vista, não por nós, como um horizonte, ou melhor, um paraíso possível de moradia, segurança e sustentabilidade ambiental. É o que parece explicar o grande número de empresários que querem fazer de Touros, seus condomínios residenciais privados. E que este último termo fique bem claro. Definitivamente Touros parece ser o melhor lugar para viver. Mas, viver segundo o lugar Touros, ou viver para fazer de Touros outro lugar?

A verdade é que a explicação para essa procura por Touros não está em Touros. O que temos à nossa frente é apenas um reflexo do que vêm acontecendo com o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos. Vale lembrar que esses centros são movimentados por uma quantidade “x” de pessoas e que seu desenvolvimento, seja ele econômico, social ou político, faz parte de uma quantidade “y”. Essa quantidade “y” é a mesma que sente maior insegurança de permanecer no seu lugar devido a disparidades sociais.

É, insegurança, uma boa alternativa para explicar a repentina vontade de se produzir um espaço da segurança, um espaço da paz, um espaço da sustentabilidade ambiental, um espaço privado, longe de qualquer movimentação contrária ao desenvolvimento capitalista. Todos esses espaços não fazem parte do espaço comum a todo ser humano.

Quanto à insegurança, é sabido que ela está em todo lugar. Em Touros há insegurança. Mas a insegurança que se tem hoje em Touros, não é a mesma que se tem em Natal (por exemplo). A sociedade de Natal, ou de outros centros, possuem certo grau de insegurança muito maior ao que se tem em Touros. Durante o dia, em Touros, posso deixar o portão aberto, ainda. Quanto a isso, perguntaria se o que queremos é receber pessoas que vivem uma realidade diferente a de Touros para tornar Touros sua realidade.

A idéia de implantar condomínios residenciais privados aqui, não é pensada para resolver os problemas daqui. Isso é óbvio! E, sim, para resolver o problema de pessoas inseguras, por dominarem um grande número de capital a revelia dos que não podem. Além disso, para investir em áreas produtivas e obter lucros extravagantes. Para refletir sobre isso, utilizo a frase de Josué de Castro no seu livro Geopolítica da Fome: para ele, “A sociedade está dividida em dois grupos: o grupo dos que não comem, e o grupo dos que não dormem com receio da revolta dos que não comem!”. Se for culpa dos que não dormem, termos os que não comem, é uma duvida a pensar.

Está na Câmara de Vereadores, a análise de mais um projeto desse gênero. O projeto da Vila Maria, que se localizará onde hoje é a fazenda Mariazinha em Boa Cica e que um dos seus atrativos é a proximidade com a Lagoa do Boqueirão. Ressalvo, que o projeto não é da Câmara e sim a análise. O projeto conta com a possibilidade de 10 mil moradores, e segundo os projetistas, renderá cerca de 6 mil empregos. Onde conseguiremos tanta gente?

Ficou presente no ar, uma preocupação ambiental com nossa lagoa. Mas quanto a isto, os projetistas atentaram de antemão, ou melhor, só atentaram a isso. E isso foi constatado com a apresentação do EIA/RIMA.

Para entender melhor, EIA/RIMA significa Estudo de Impactos Ambientais / Relatório de Impactos Ambientais. Somente apresentando EIA/RIMA uma atividade que utilizará Recursos Ambientais pode obter o Licenciamento Ambiental. O problema não foi a não apresentação, mas sim uma apresentação que não levou em conta possíveis impactos sociais, já que o homem também faz parte do ambiente. Foi aí que nossos amigos projetistas falharam.

O apresentador do EIA/RIMA era um Geólogo. Não quero desvalorizar aqui a formação do profissional, mas diante da complexidade do tema tratado, está aberta a necessidade de profissionais de outras áreas de conhecimento. A elaboração do EIA/RIMA é complexa porque exige interdisciplinaridade. Sabemos, que um Geólogo pode explicar os impactos nos processos naturais do ambiente, e que faz isso muito bem. Mas aos impactos sociais, cabe a análise dos cientistas sociais como Antropólogos, Geógrafos, Sociólogos, Historiadores e etc, muito embora algum desses não poderem assinar laudos por não se cadastrarem junto ao CREA. Mas essa análise não foi feita, o que se justifica pela ausência de algum desses profissionais. A discussão do Projeto na câmara só se deu em volta de possíveis problemas ambientais. Em nenhum momento alguém pode exibir relatório sobre possíveis impactos sociais. Esses sim são os que estão mais implícitos a acontecer, afinal é um projeto para 10 mil moradores. Lembro que a sede de Touros possui aproximadamente a mesma quantidade. Seria então construir outra sede?

Não quero dizer aqui, que não devemos concordar com projetos que podem levar Touros a se desenvolver economicamente, mas apenas gostaria que pudéssemos refletir sobre alguns fatos que não ficam claros, para que assim possa ser avaliado por nós se é isso que queremos para Touros. Também não posso exibir ainda, um possível relatório dos impactos sociais, mas sei que é necessário e que se pode ser feito.

Pensar no futuro significa idealizar no presente, fazendo memória ao passado, projetos que determinem as ações do futuro. O quero dizer é o mesmo que o dito popular, “colhemos o que plantamos”. Esse é o retrato da contradição humana. Portanto, se agimos hoje fazendo memória a insegurança da atualidade, o que teremos no futuro é mais insegurança.

Então, temos a nossa frente, duas possibilidades: a possibilidade de facilitar a implantação de um condomínio para proteger algumas pessoas da insegurança, e a assim gerar mais insegurança; e a possibilidade de dificultar a implantação do condomínio, fazendo com que seu projeto mude de ideologia, até que possamos enxergar um futuro realmente seguro.

Agora, é só decidir!
O que poderia redigir, nosso estimável Nilson Patriota sobre as maravilhas de Touros, se estivesse dentro de seu condomínio privado onde não pudesse sentir o calor e a tranqüilidade do povo que forma essa cidade?



* Edgard Vieira Guerra

Cidadão Tourense e Licenciando em Geografia pela UFRN

Nenhum comentário:

Postar um comentário