
Ipea faz retrato das desigualdades de gênero e raça no país
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou nesta terça-feira um retrato das desigualdades de gênero e raça no país. Os dados, relativos ao período de 1993 a 2007, mostram que a expectativa de vida dos brancos é maior do que a dos negros, ao mesmo tempo que as mulheres vivem mais do que os homens. E, apesar de ser cada vez maior o número de famílias chefiadas pelo sexo feminino, o instituto calcula que o Brasil pode levar 87 anos para igualar salários de homens e mulheres. Confira a íntegra da pesquisa.
A ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire, comemorou a redução das desigualdades entre homens e mulheres, mas reconheceu que é preciso acelerar o ritmo de implementação das políticas. - Desde as últimas Pnads (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), temos tido notícias boas e más em relação às desigualdades das mulheres. A boa é que existe redução das desigualdades no Brasil. A mais importante seria que diminuiu a diferença salarial entre homens e mulheres. A má é que a velocidade não é a que queremos. Se fizermos uma regra de três simples, projetando os dados da Pnad para o futuro, levaríamos 87 anos para superar a diferença salarial entre homens e mulheres.
Negras sofrem dupla discriminação
A pesquisa ressalta que, entre 1996 e 2007, a desigualdade de renda entre homens e mulheres caiu cerca de 10%. Já entre brancos e negros, diminuiu 13%.
Apesar da redução da diferença de rendimentos entre homens e mulheres, negros e brancos, o instituto mostra que as mulheres negras ainda sofrem uma dupla discriminação , que resulta em menores salários. De acordo com o estudo, em 2007, as mulheres negras ganhavam 67% do que os homens negros recebiam e 34% do rendimento médio de homens brancos. Enquanto isso, as mulheres brancas recebiam 62,3% do que ganhavam os homens do mesmo grupo racial. De acordo com o estudo, o número de famílias formadas por casais com filhos e chefiadas por mulheres cresceu mais de dez vezes nos últimos 15 anos. O número passou de 301 mil (22,3%), em 1993, para 3,6 milhões (33%), em 2007.
Embora pequeno, chama também a atenção dos pesquisadores o crescimento do número de famílias monoparentais - família constituída em torno só da mãe ou só do pai - masculinas, que passou de 2,1%, em 1993, para 3%, em 2007, dentre o total de famílias chefiadas por homens. Por outro, foi registrada uma diminuição nas famílias monoparentais femininas, de 63,9%, em 1993, para 49,2%, em 2006, do total das chefiadas por mulheres.
De acordo com o estudo, o crescimento do número de famílias monoparentais masculinas (de 2,1%, em 1993, para 3%, em 2007) dentre o total de famílias chefiadas por homens e o decrescimento das monoparentais femininas (de 63,9%, em 1993, para 49,2%, em 2006) do total das chefiadas por mulheres.
"Significa dizer que, mesmo lentamente, os homens têm assumido a responsabilidade tanto pela provisão, tarefa tradicionalmente considerada masculina, como pelo cuidado da sua prole, tarefa essa tradicionalmente relegada às mulheres", destaca o texto.
Maior taxa de analfabetismo está entre mulheres negras
A população negra ainda enfrenta maiores dificuldades para o acesso ao ensino e permanência na escola. De acordo com o levantamento, a taxa de analfabetismo dos homens brancos com 15 anos ou mais caiu de 9,2%, em 1993, para 5,9% em 2007. Entre as mulheres brancas da mesma faixa etária, a queda foi de 10,8% para 6,3% no período. Já a taxa de analfabetismo entre as mulheres negras passou de 24,9%, em 1993, para 13,7%, no ano passado.
Em relação ao tempo de permanência na escola, o estudo mostra que também houve melhora em todos os gêneros e raças. No entanto, os negros ainda ficam menos tempo em sala de aula. De acordo com o levantamento, em 2007, homens apresentavam uma média de 7,1 anos de estudo, contra 7,4 anos para as mulheres. Entre os brancos, a média era de 8,1 anos de estudo e entre os negros, de 6,3 anos.
Brancos vivem mais do que negros
O estudo mostra ainda que, em 1993, o total de mulheres brancas com mais de 60 anos de idade representava 9,4% da população e o de negras, 7,3%. Esses percentuais alcançaram, em 2007, 13,2% e 9,5%, respectivamente. O grupo dos homens brancos com 60 anos ou mais, em 1993, era de 8,2% e passou para 11,1%, em 2007. Já o percentual de negros na mesma faixa etária saltou de 6,5% para 8% no mesmo período.
A diferença de representatividade de homens brancos e negros com mais de 60 anos aumentou de 1,7 para 3,1 pontos no período. A diferença entre as mulheres brancas e negras passou de 2,1 para 3,7 pontos.
Negros são maioria em favelas
Apesar de reconhecer que nos últimos 15 anos houve uma melhoria nas condições de habitação no Brasil, a pesquisa aponta que ainda é perceptível a diferença entre negros e brancos, especialmente no que diz respeito aos domicílios localizados em assentamentos subnormais - favelas e assemelhados.
Entre 1993 e 2007, o percentual de residências que se encontravam em favelas ou semelhantes passou de 3,2% para 3,6%. É um percentual considerado baixo, mas que representa um universo de 2 milhões de domicílios, ou pelo menos 8 milhões de pessoas.
Considerando a distribuição de acordo com o chefe da família, a pesquisa mostra que 40,1% dessas casas são chefiadas por homens negros, 26% por mulheres negras, 21,3% por homens brancos e 11,7% por mulheres brancas. De acordo com o estudo, essa distribuição mostra a predominância da população negra em favelas, o que reforça a sua maior vulnerabilidade social.
Elaborado por meio de indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo analisa diferentes campos da vida social. A pesquisa foi realizada em parceria entre o Ipea, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e o IBGE.
Ipea lança 3ª edição do “Retrato das Desigualdades”
Foi lançada nessa terça-feira,16, a 3ª edição do "Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça", estudo desenvolvido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), pela SPM (Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres) e pelo Unifem (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher) que analisa o perfil da população brasileira a partir de recortes de gêneros e raça/cor através de dados do IBGE nos últimos 14 anos (Pnads de 1993 a 2007).
O documento mostra que houve mudanças nos últimos 14 anos, porém não muito significativas, principalmente na questão racial. As mulheres negras são as que ganham menos, registram as maiores taxas de desemprego, as menores de emprego formal (com carteira assinada) e formam o maior contingente de domésticas, sendo o emprego mais comum entre mulheres negras. Para cada cinco negras, uma é doméstica. Já para a mulher branca, essa proporção diminui para uma doméstica em cada oito com trabalho remunerado.
A pobreza também afeta mais as famílias negras. Entre os beneficiados do Programa Bolsa Família, 69% dos domicílios têm chefe de família negro e 31%, branco. Onze blocos de analise compõem o trabalho:
Bloco 1 - População;
Bloco 2 - Chefia de família;
Bloco 3 - Educação;
Bloco 4 - Saúde;
Bloco 5 - Previdência e assistência social;
Bloco 6 - Mercado de trabalho;
Bloco 7 - Trabalho doméstico remunerado;
Bloco 8 - Habitação e saneamento;
Bloco 9 - Acesso a bens duráveis e exclusão digital;
Bloco 10 - Pobreza, distribuição e desigualdade de renda;
Bloco 11 - Uso do tempo
FONTE:http://www.novo.afrobras.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=101:ipea-lanca-3o-edicao-do-retrato-das-desigualdades&catid=38:pesquisas&Itemid=73
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